sábado, 7 de abril de 2007

Observatório da Imprensa - Jornalista mexicano vai fundo na sujeira


O mexicano José "Pepe" Martínez, 50 anos, 30 de jornalismo, não se faz de vítima, aceita resignado o fardo como parte do seu trabalho, mas ainda se diz incomodado – algo inquieto – com sua condição de um dos 50 jornalistas mais ameaçados do mundo, segundo relatório compilado pelo Departamento de Estado americano: até mesmo nas mais comezinhas atividades cotidianas – comprar pão e leite, pegar o jornal na banca da esquina, levar as filhas para a escola, "desayunar con los cuates" (lauto e longo café da manhã com amigos, típico do México) – ele é sempre vigiado por quatro guaruras (guarda-costas) da Procuradoria Geral da República, que, a uma distância discreta, dentro de peruas blindadas, garantem, bem armados, sua segurança e a de sua família, dia e noite.
Foi ele próprio, Martínez, autor de sete livros de denúncias sobre a corrupção e as arbitrariedades do poder político mexicano (200 mil exemplares vendidos), quem pediu essa proteção às autoridades, cansado e atemorizado pelas constantes ameaças à sua vida por haver se transformado, ao longo dos últimos vinte anos, no mais sério e respeitado jornalista investigativo do país.
Nesta entrevista ao Observatório da Imprensa, ele diz que a pressão hoje diminuiu, os telefones não estão mais grampeados, já pode sair à rua com certa tranqüilidade, mas as angústias devem se intensificar de novo, em maio próximo, com a publicação do seu oitavo livro, agora sobre as misérias do jornalismo mundial, com destaque para o mexicano.
Martínez visitou há pouco São Paulo e Rio para sondar o interesse de editoras brasileiras na publicação do livro que consolidou de vez sua reputação – a biografia não-autorizada do magnata mexicano Carlos Slim (Carlos Slim. Un retrato inédito, Oceano, México, 2002). Seu personagem é o homem mais rico da América Latina, dono da América Móvil e das companhias brasileiras de telecomunicações Embratel e Claro, mas que não lhe rendeu dissabores maiores – pelo menos quanto a riscos de vida.
Este não se trata de um livro de apologia ou adulação ao homem de negócios mais poderoso do país, ao contrário: não poupa críticas aos métodos de trabalho de Slim, envolvido num dos grandes escândalos dos últimos anos no México: a forma como ele, graças à sua amizade com o ex-presidente Carlos Salinas de Gortari, teria sido favorecido na compra da empresa estatal Telmex.
Slim, que leu o livro já escrito e editado, pronto para ser impresso, só chiou sobre o prefácio, duríssimo, de autoria de outro jornalista de prestígio, Carlos Ramírez, e conseguiu, pressionando aqui e ali, removê-lo do livro de mais de 100 mil exemplares vendidos e seguidas reedições, incluindo traduções a outros idiomas (filho de imigrantes libaneses, ele facilitou a circulação da obra em países árabes).
Quando traduzido ao português, terá um capítulo de atualização sobre os investimentos do empresário mexicano no Brasil: 1 bilhão de dólares em setores pesados, como ferrovias, rodovias, aeronáutica, além de mais recursos na rede de telecomunicações que vem montando no país.

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